Soluções virtuais para problemas reais

terça-feira, 9 de junho de 2009 |

“Eu queria ser mais popular e ter amigas verdadeiras, mas não sei como! Por favor, me ajude!”, Beatriz. E você, já teve alguma relação a três? Comente aí sua experiência! “Oi! Tenho 16 anos e estou com vontade de fazer sexo com um menino que eu fico, mas tenho medo de que a minha mãe perceba. Tem como?”, Vanessa. Como você fez para falar com o seu namorado que não gostava do estilo dele? Conte aí!

As frases acima não são inventadas, são dúvidas reais de leitores de blogs voltados para os que não são mais crianças, nem tampouco adultos. Em um artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo, o ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins nos alerta: “Não podemos fechar os olhos para a realidade: os jovens, cada vez mais, buscam informações nos portais, nos blogs e nas redes sociais da internet”.

Um novo modelo

As dúvidas que antes estavam restritas às sessões de relacionamento de algumas revistas mensais, ou às aulas de educação sexual, podem ser tiradas em blogs, escritos por quem vive no dia-a-dia as dificuldades e descobertas de ser jovem no mundo contemporâneo.

Caio Henrique Caprioli, 21, estudante de Jornalismo, é responsável pelo blog iBoy, e busca desde 2006 explicar para as garotas sobre o “universo dos meninos”. Em sua página ele tenta desmistificar o comportamento masculino e ao mesmo tempo esclarecer dúvidas dos leitores. “É complicado escrever sem parecer machista, sem colocar juízo de valor nas ações dos meninos e meninas. E pior: meninas são exigentes, qualquer coisa errada, elas caem em cima”, desabafa.

O blog Melhores Amigas segue a mesma linha, só que escrito sobre "meninas" por uma "menina". A responsável por manter esse canal de diálogo sempre atualizado é Daniela Barbosa, 26, graduada em Letras e em Jornalismo. “O Melhores Amigas é um blog que já existia e era escrito por outra pessoa. A pessoa abriu mão dele e eu decidir assumir o posto”, relembra.

As postagens são, na maioria das vezes, respostas às perguntas feitas pelas leitoras, dessa forma o blog tem uma aceitação muito grande, situação que pode ser conferida em postagens que atingem mais de 200 comentários. “As leitoras são adolescentes que estão ‘descobrindo’ a vida e muitas vezes não têm liberdade ou abertura para tirar certas dúvidas com familiares ou amigos”, descreve Daniela.

A empatia dos leitores é grande, uma vez que não se trata de um discurso pronto, cristalizado. A professora de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Drª. Letícia Tunala, explica que as comunidades virtuais criam um lugar de linguagem com a qual as pessoas se identificam, “o indivíduo encontra um lugar no mundo ali”, pontua.

De certa forma os blogs funcionam como consultórios sentimentais, isso requer cautela. Daniela, consciente disso, tenta tomar o maior cuidado possível, “sei que existem jovens que são muito influenciáveis e que vão seguir à risca o que eu vou dizer. Tento dar conselhos sadios que não vão de alguma maneira prejudicar a vida deles”.

Caio também é ciente de seu papel: “Lendo os comentários, vejo que as meninas acreditam muito em mim e eu tenho um pouco de medo de acabar com uma relação, com um sonho, dando o conselho errado”. Para que as respostas sejam o mais coerente possível ele tem um método: “O que eu faço é conversar com meninas e meninos, tentar entender, pra depois expor”.

Casa de ferreiro

Quem escreve também vive seus próprios conflitos. Quando se depara com seus dilemas Daniela explica, “tento ser racional para encará-los e muitas vezes paro e penso que as minhas atitudes não condizem com muitos conselhos que eu dou no blog. Aí se encaixaria aquele ditado: em casa de ferreiro, o espeto é de pau”.

A Drª. Tunala explica que “as comunidades virtuais e os blogs são hoje mais um espaço social, onde as pessoas se encontram, favorecendo situações muito parecidas com o mundo físico. A diferença é que a internet proporciona um acesso muito maior”. É esse acesso que tem atraído tantos jovens e adultos. Os fóruns de discussão são infindáveis, muitos deles sobre comportamento e dúvidas sobre relacionamento ou sexualidade.

Mais que um modismo, a realidade apresentada é fruto de uma sociedade frágil. Caio explica que os jovens precisam amadurecer: “ainda pensamos muito limitadamente, temos crenças e preconceitos que são errados. A sociedade nos cria de forma estranha, e a gente só tende a continuar essa criação ao invés de mudá-la”, conclui.

Por Michel Oliveira
Imagem: serdiferente.wordpress

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